Há quase três meses lecionando no CEU Vila Rubi já vivi muitas emoções com minhas três turmas de sexto ano. E com esse mix de emoções afirmo: a leitura mexe com a emoção das pessoas, a leitura transforma, há coisas que um livro pode fazer na vida de uma pessoa que não sou capaz de descrever aqui.
Tenho como método solicitar leituras aos alunos e um diário de leitura registrando o envolvimento deles com o livro, peço que escrevam nesse diário como foi o encontro deles com o livro, o que o levou a lê-lo, os sentimentos despertados, o que conseguiram aprender. O registro do diário de leitura vai além do resumo sobre o enredo do livro. Meu aluno tem que produzir teu pensamento no diário, o que leva essa tarefa a ser carregada de emoção e envolvimento do aluno com o livro.
Na primeira semana de aula expliquei-lhes que leriam livros e escreveriam sobre essas leituras no diário de leitura, e como sou uma doida por livros, fui deixando bem claro para eles que essa seria uma tarefa de dentro, uma conversa do leitor com o livro. Fui deixando bem claro para eles também que sou uma pessoa que lê e gosta muito do que faz. Acho que perceberam isso e foram contagiados, porque no dia marcado para a entrega do diário e da nossa Roda de Conversa sobre as leituras feitas, me surpreendi tanto, que a emoção é difícil de descrever.
A nossa tímida Roda de Conversa sobre as leituras depois virou festa |
Meus alunos possuem um repertório literário que achei lindo e digno de condecorações. As leituras foram desde Chapeuzinho Vermelho a Marley e Eu. O melhor ainda é que cada um contou seu envolvimento com o livro, leram livros que ganham da Prefeitura para comporem suas bibliotecas, leram livros emprestados pela Biblioteca do CEU e pela Sala de Leitura, leram livros que tinham em casa, livros que pediram para os pais comprarem. Poucos do sexto ano ficaram sem ler, até quem chegou por último na turma (matrícula suplementar) queria ler e falar sobre um livro.
Essa experiência de falar para o outro, de ser ouvido, de falar de algo que viveu, de uma descoberta, deixou-os a princípio, aflitos, mas depois todos se soltaram, teve gente que não queria mais parar de falar. Na roda de leitura tive reencontros com muitos livros que li na minha adolescência, foi um reencontro maravilhoso, meus livros prediletos estavam lá nas mãos deles, e comecei a me sentir parte daquela história que eles estavam contando. O meu pé de Laranja Lima, O Pequeno Príncipe, Beleza Negra, livros da coleção Salve-se quem puder e muitos outros que li e gosto estavam ali na roda de conversa. Para mim, aquela roda foi só risos, emoções e descobertas.
Sim, aprendi muito com meus alunos, trouxeram-me sugestões de livros que pretendo ler com certeza. Já comecei ontem com o livro da Clarice Lispector sugerido por alguns alunos A vida íntima de Laura, li e gostei muito. Nessa roda de leitura descobri que ainda tenho muito o que ler.
![]() |
Não lembrava que a Clarice escrevia para crianças. Ótimo livro para falar do tema diversidade |
É tão bom quando a gente fala a mesma língua, e é tão bom quando acontece essa troca com uma turma, melhor ainda quando a troca e com três, quatro turmas. Estou muito feliz com esse presente: alunos apaixonados por livros. Causadores de emoções e descobertas. Já vi que o ano promete. Quero fazer nosso próximo encontro lá na Biblioteca do CEU.