Um sonho é assim.
Se a gente sonha ele acontece e pronto. Parece até verdade se a gente esquece de acordar,
Estou com problemas na fabriquinha de sonhos, pensando se não entrei no sonho errado, ou se deixei isso aqui que sonhei pra minha vida se tornar um pesadelo.
Me lembro direitinho do meu sonho, ainda menininha sonhando em ser professora, ajudar as pessoas, ouvir, ser ouvida...aprender, ensinar...E o sonho se tornou verdade, esqueci de acordar.
Não vim aqui dizer que acordei, vim aqui dizer que essa semana um pesadelo invadiu meu sonho e me fez pensar em acordar, deixar tudo pra lá...
Desejei acordar e sair correndo, apagar o sonho da menina e trabalhar com máquinas. Não sei se foi errado pensar assim, mas eu pensei, e talvez esteja nesse momento me confessando.
Sei que todas as profissões tem suas dificuldades, seus altos e baixos, e todo mundo sabe que não está nada fácil ser professor nessa sociedade onde tudo é instantâneo, efêmero.
A sociedade perdeu seus valores, respeitos e costumes...é tudo tão vago, palavras tortas são tão comuns.
Não quero ficar falando na falta de desinteresse dos alunos, porque sei que é um saco ficar sentado em filas, olhando para uma lousa verde sem graça, com letras tortas desenhadas por giz branco; enquanto eles desejariam estar lá fora, lidando com máquinas, realidades virtuais, jogando bola, sentindo o vento no rosto, colocando conversa em dia com os amigos...
Não é fácil concorrer com a bola, com o video-game, com a internet, com as drogas, com a moda, com o funk, com os namoricos...
Não está fácil concorrer com a informação barata e imediata que anda circulando por aí...Não é fácil motivar essa galerinha a sonhar como eu... não é fácil trazê-los para meu sonho. Não é fácil invadir o sonho deles.
Muitas coisas aconteceram comigo nesses últimos dias, acontecimentos que me trouxeram a reflexão, o choro, a dor, consultas, remédios e consequentemente palpites e conselhos de amigos e familiares.
Em meio a todo esse turbilhão, paro e olho para mim.
Me vejo em meio a muitas coisas, coisas que desejei: a sala de aula, meu cantinho, a Pós na PUC, a liberdade...
Me vejo perturbada, com um pouco de dificuldade em administrar todas essas coisas. Na Pós e na vida consigo ver clareza, mas na sala de aula, sinto que faltam ferramentas para que eu tenha um melhor desempenho. Muitas vezes sinto-me sozinha, lutando para que haja interesse dos meninos pelo aprender, ou pelo menos pelo respeitar. NÃO ESTÁ FÁCIL.
São vidas, e são vidas diferentes, e mexer com as pessoas sem se envolver com suas vidas é uma tarefa difícil, principalmente para mim, que me envolvo emocionalmente demais com o que faço.
Tive uma grande alegria no dia 30. Após prestar o Cocurso da SEESP e conseguir atingir o esperado em Língua Inglesa e Língua Portuguesa, uma onda de alegria tomou conta de mim...comemorei, gritei, fiquei feliz, imaginei a minha vida com mais esse sonho realizado: efetiva - nessas condições, eu poderei realizar mais alguns sonhos guardados aqui dentro.
Após essa onda de alegria, comecei a ficar fraca, caí. Não estava conseguindo lidar com as situações de conflito na sala de aula. Não estava encontrando paciência e serenidade para ser a professora que sonhei. Por uns dias perdi a motivação, os palavrões passaram a fazer barulho em meus ouvidos, a ferir meu coração, fiquei alheia às minhas vontades e aos meus ideais...fui seguindo a maré, deixando a onda me levar...
Gritei, falei, esperneei, tentei concorrer de todas as formas. Fiquei mal, fraca, parei. Recuperei um pouco a motivação.
Depois o furacão aumentou. Tentei conversar, ouviram, mas parece que não fez efeito toda a minha genuinidade. Me calei. E quando abri a boca, foi em prantos, não consegui segurar tanta dor guardada aqui dentro, tanta frustração. Chorei demais na terça, chorei tanto que a minha cabeça não aguentou, entrou em estado de alerta, perdi a noção, a consciência, perdi o controle, fui carregada para o hospital, tomei remédios, repousei...
Depois de um tempo, parei e refleti...preciso me recompor...me reorganizar, colocar a cabeça no lugar e pensar conscientemente que não vou desistir do meu sonho.
Não dessa vez,
não nesse tropeço,
não vou escorregar nessas lágrimas,
não posso ficar cega novamente,
nem cruzar meus braços...
Não vou me esquecer das alegrias desses dois anos que já vivi e ficar apenas com a frustração momentânea.
Isso é se entregar.
Isso é ser fraca.
Eu já chorei demais. "Garotas ficam mais fortes depois que choram".
Não sou Shirra, mas tenho a força...
Continuo pelos que querem e pelos que não querem também,
Eu tenho valores, e se essa sociedade não tem,
continuarei contagiando-os com o pouco que consegui ter.
Continuo buscando forças, nesse momento sei que está dentro de mim. Deus me ajudará.