Para cada pessoa uma palavra tem um significado. Amor para algumas pessoas pode denotar o bem, a felicidade, boas lembranças; para outras pessoas significa decepção, ódio, tristeza, sofrimento. Tudo vai depender da experiência.
Há trinta e dois meses, quando resolvi morar sozinha, procurei desesperadamente por uma casa em um local sossegado, de preferência com entrada independente e sem vizinhos no quintal. Encontrei uma casa ajeitadinha, bem localizada, com valor do aluguel que cabia certinho no meu bolso. Mas, eu não estaria sozinha, teria de dividir o quintal com outra família ou pessoa que fosse morar na outra casa. Sem pensar muito, pois não haviam muitas opções de casa na redondeza. Mudei em Junho de 2008 e uma semana depois a família com três pessoas chegou para serem de fato meus vizinhos.
Fui logo com a cara deles, sossegados, tranquilos e com uma filha de dez anos, doidinha como eu. Logo ficamos amigas e era como se ela fosse a minha irmãzinha mais nova. Andressa não acreditava no início que eu era professora, só depois de me ver corrigindo textos madrugadas inteiras é que teve certeza do meu ofício. Ela passou a me fazer companhia em muitos momentos. Ouvia com interesse minhas histórias e experiências vividas na escola e acompanhou inteiramente o meu sofrimento de apaixonada.
Ficávamos acordadas até muito tarde, fazíamos vitaminas, sucos de maracujá com leite, temendo o barulho do liquidificador para não incomodar os outros vizinhos... Acompanhava-me nas caras e bocas também diante do barulho da impressora que trabalhava sem parar depois das 23h.
Brincávamos de tomar chá da tarde, de dançar, pular e cantar, tiramos fotos, fizemos as unhas, escovamos os cabelos, andamos de bicicleta, tivemos crise de riso e assistimos novelas, filmes e vídeos no youtube.
Minha amiguinha me acompanhou em muitas aventuras. Fomos ao Ibirapuera ver "O Pequeno Príncipe na Oca", recusamos amedrontadas às caronas oferecidas ao final da tarde. Fomos à Praia, ao Playcenter, Festa Junina e muitos outros lugares.
Seus pais, pessoas generosas, sinceras e prestativas. Sempre ali ao lado para o que precisasse. O engraçado dessa relação de vizinhos é que aconteceu como eu imaginava. Nenhum invadiu o espaço do outro e rapidinho chegamos aos trinta e dois meses de convivência. Não éramos daqueles vizinhos pegajosos, que ficam o dia todo um enfiado na casa do outro. Nos falávamos e nos ajudávamos sem precisar de um invadir a privacidade do outro.
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Andressa, vizinha, irmã e amiga |
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Partilhávamos os sonhos, as vontades e as indignações com acontecimentos cotidianos. Andressa foi a primeira pessoa que abracei depois que saí do terreno onde será construído o meu apartamento. Abraçadas choramos como crianças, fiquei tocada com a sensibilidade da menina de treze anos, que acompanhou-me nesses quase três anos e sabia da intensidade do meu sonho e o quanto aquela notícia significava para mim.
Foram momentos únicos, não dividimos apenas o quintal e o tanque. Dividimos momento únicos. Infelizmente por motivos de força maior, meus amigos e vizinhos tiveram que partir. Eu já sabia há um mês, vinha tentando não acreditar e adiava o choro cada vez mais. Hoje foi o dia da partida. Passei o dia pensando no que diria quando fosse dizer tchau. Não consegui pensar em nada, não gosto de despedidas, fico sempre muito sem graça. Foi triste. Nos abraçamos, choramos e desejamos que nossas vidas continuem com felicidade. Queria acompanhar mais de perto a nova fase da Andressa, eu disse o ano passado inteiro que ela viraria “emo”, ela ria e dizia que não. Agora não vou poder acompanhar muito de perto. Logo estará uma moça, com novas amizades e compromissos além da escola e novela. Espero de coração que ela cresça e que continue a pessoa maravilhosa que é.
Procurarei não perder contato com esses anjos que por trinta e dois meses moraram aqui ao lado de casa. Peço a Deus que envie pessoas boas para me fazerem companhia. Se fosse para escolher, eu os escolheria novamente. Vizinhos são anjos. Mas quando a gente mora de aluguel, um dia um dos anjos bate asas e vai embora.