Em uma das minhas visitas à sala de
leitura da EE deputado Gregório Bezerra, me deliciando com os inúmeros títulos
que povoam aquele espaço, encontrei o livro "Rosinha, minha canoa",
do autor José Mauro de Vasconcelos.
Das obras do autor, até hoje só havia lido
o livro "O Meu pé de Laranja Lima" - li não, mergulhei na história do
menino Zezé e sua infância que me fez debulhar em lágrimas, todas as cinco
vezes que o li. Descobri o autor na minha infância, mas até hoje carrego esse
livro, como quem carrega um presente, um tesouro, um livro que fiz questão de
comprar e ter na minha estante para ler sempre que desejar.
Até então, não havia mais sentido a
alegria e o despertar iluminado para ler outro livro do José, apesar
da minha amiga Raquel já ter comentado da beleza de "Rosinha, minha
Canoa".
Finalmente, ontem tive a oportunidade de
encontrar esse tesouro escondido em uma caixinha com outros livros, que
imediatamente ficaram invisíveis quando meus olhos cruzaram com o nome JOSÉ
MAURO DE VASCONCELOS naquele livrinho tão frágil.
Apanhei-o. tão pequenino (menor que um
palmo da minha mão), gasto pelo tempo, com um descascadinho quase apagando o
nome da editora Melhoramentos no rodapé da capa, cor desbotada pelo tempo e
provavelmente pelo contato das muitas mãos que evidentemente já o carregaram.
As páginas amareladas, soltando aquele cheiro bom de livro misturado com o
tempo, que particularmente adoro.
Todas essas características logo
despertaram em mim o desejo de desvendar aquelas páginas. Sei que tem gente que
não gosta de "livro velho", mas se tem coisa que me deixa satisfeita,
é pegar um livro gasto pelo tempo, sentir que muitas mãos os pegaram, muito
olhos deslizaram por cada uma das linhas, sorrindo, emocionando, se revoltando,
lendo...
Viajo mais ainda quando vejo uma manchinha
de líquido na folha, fico imaginando se terá sido uma lágrima, suor, suco,
café... Penso isso porque tenho muitas lágrimas hospedadas em muitos livros que
já li, inclusive do "O Meu pé de Laranja Lima". E nessa viagem fico
pensando: “Quem mais terá notado quanta emoção há impregnada nas páginas de um
livro velho”?
Voltando ao momento do encontro com
"Rosinha, minha canoa", quando peguei o livro, senti que estava
gasto, observei a capa com a figura de uma canoinha frágil, com uma figura
humana segurando um remo, navegando em águas já esbranquiçadas pelo tempo, no
canto inferior, a imagem de um pássaro que desconheço o nome, formando um
cenário convidativo, não demorei: abri o livro, li com emoção a "Explicação"
do autor para uma aluna que me acompanhava no "garimpo dos livros".
Decididamente sorri, fechei o livro e
disse "vou levar".
A linguagem delicada, poética, leve,
simples, linda e engraçada do José Mauro de Vasconcelos, despertaram todo o
gosto adormecido que havia sentido quando li "O Meu pé de Laranja
Lima".
Hoje li no ônibus, estou no terceiro
capítulo, confesso que já estou encantada pela Madrinha Flor, a simplicidade e
graça do Zé do Adeus (dei boas gargalhadas no ônibus, lendo a consulta dele com
o Doutor), o jeito "xengo-delengo-tengo" de falar da canoa, o jeito simples
e gostoso de ser do Zé Orocó... Já vi que esse livro vai para minha cabeceira,
fazer companhia aos outros que me fazem sorrir.