Hoje, com muita alegria, a convite da Suelizinha, idealizadora do Projeto AEL, pudecompartilhar essa experiência emocionante com outros professores na Academia Paulista de Letras!
O relato apresentado segue abaixo:
Meu encontro com Lygia Bojunga Nunes
Aconteceu de forma simples e ao mesmo tempo fantástica. Sempre ouvi falar da Lygia, e lembro de ter lido trechos dela em livros didáticos ainda quando criança (Sempre fui fascinada pelas histórias dos livros de português).
A infância passou, o ensino básico também...
Na graduação, ouvi falar do livro "A Bolsa Amarela (1976)", mas o interesse pra ler não foi intenso...
Só em 2009, meu segundo ano como professora, que tive a oportunidade de viver essa experiência.
Minha tia Bel (que na época fazia o EM na EJA), estava lendo o livro na aula de matemática, depois teve que se separar do livro por conta das férias. Recebi a missão de encontrar o livro pra ela na biblioteca da escola onde trabalhava.
Descobri-o. Em vez de levá-lo à minha tia, fiquei quieta e li, li no ônibus, voltando pra casa. Quando cheguei, já havia lido e desejava mais. Voltei à biblioteca no outro dia e descobri os tesouros da Lygia guardados ali no pó, alguns novinhos, outros já lidos, folheados.
Mais que depressa separei todos e levei pra casa para ler.
Depois de descobrir a menina Raquel com suas vontades (não diferentes das minhas), "Bolsa Amarela" e forte imaginação, parti para leitura d"O abraço(1995)". Fiquei impressionada com a história, o jeito como Lygia encaminha a trama, mexe comigo, a Clarice está até hoje em minha mente, falando daquele abraço que não deve nunca ser esquecido. A expressão daquele palhaço, o olhar, as mãos, tudo se reproduziu de forma tão real...
Depois do abraço, fui ver "Paisagem(1992)", história fantástica, incrível envolvimento do leitor com a autora e todo o processo de criação do livro. A essa altura eu já estava com a lista de todos os livros, e com os que havia na biblioteca da escola, devorando-os, de forma insaciável, como se buscasse uma resposta. Logo descobri que eram vinte, e fui lendo, e a cada livro que lia, chegava à sala e contava aos meus alunos. Que ficavam entusiasmados e tentados a ler também.
Sentada na cadeira da minha cabeleireira, chorei lendo os contos de "Tchau(1984)", impressionante a realidade descrita no conto "O bife e a pipoca", tive que ler em voz alta, minha cabeleireira parou o secador pra ouvir aquela maravilha de conto. Não consigo ler esse conto sem chorar! Um choque intenso de realidade.
O mar está sempre presente em suas histórias, assim como os trocadilhos, metáforas, jogo de palavras, uma sensibilidade que se transfere a cada palavra lida...
Depois encontrei com "Os colegas(1972)", naquela festa e criatividade que me deram uma motivação incrível, (justo quando eu mais precisava) com o bordão que acho muito difícil de ser esquecido "vida, acho você a maior". Aprendi muito com Maria na "Corda Bamba(1979)", a forma como lida com a dor da perda dos pais e a descoberta da vida, relações familiares e o valor de uma amizade, a importância de ter alguém com quem conversar. Verdadeiro encontro com o inconsciente. Valores esses encontrados também em "Meu amigo Pintor(1987)", que amizade linda entre Cláudio e o pintor! Esses dois livros possuem uma ligação forte, ambos falam da morte, na visão das crianças.
"Nós Três(1987)" é cheio de mistério. Narra uma paixão intensa, forte, fatal, trágica. Uma menina, um homem e uma mulher. Até onde vai a lucidez quando se está apaixonado?
Chegar "A casa da Madrinha(1978)" apesar de não ter sido nada fácil para o personagem, me fez sentir imensa alegria, fiquei encantada com aquele pavão, sem falar na esperteza do garoto Alexandre e sua dura realidade. Lygia mostra nessa aventura, a exploração do trabalho infantil, a rotina de uma professora, impedida por outras pessoas de encantar seus alunos com a sua fantasia e arte de ensinar, mais uma vez real e imaginário se encontram.
Gostei muito desse livro que fala de sonhos, desejos, realidade...sem falar na intertextualidade com "A Bolsa Amarela" quando é contada a história do pavão que teve seu pensamento atrasado no mesmo lugar onde o Afonso teve o pensamento costurado, a Academia Osatra. Muito bom!
"Angélica (1975)" e a metamorfose do Porco que se torna Porto, e a relação com a verdade, mentira, estar bem consigo mesmo, me deixa mais apaixonada pela Lygia, a Cegonha, o Elefante, o Crocodilo, todos passam a mensagem de que o bom mesmo é a gente se aceitar do jeito que é.
História boa mesmo foi "A cama (1999)", não consegui largar o livro nem para comer, li no mesmo dia e fiquei querendo mais a companhia da Petúnia e do Tobias, aquela cama tão fantástica, tão personagem e tão cheia de histórias pra contar. Seguindo a linha dos móveis, li "O sofá estampado (1980)" já ficando desesperada, porque estava acabando meu estoque de Lygia, ainda faltavam oito, Ia ter que comprar!
Queria todos! Na leitura do décimo segundo livro da Lygia, continuava querendo mais.
Não tinha mais na Biblioteca da escola, nem na Biblioteca Municipal, a solução seria correr para a livraria mais próxima...
Não precisa ninguém falar, sei que vale a pena ter "Fazendo Ana Paz(1991)", colocar pelas paredes da minhas casa os "Retratos de Carolina (2002)", sair por aí lendo, cantando e gritando "Seis vezes Lucas (1995)", ter com o "Livro-um encontro (1988)", pedir que alguém leia pra "O rio e Eu (1999)" a história de "Nós três -teatro (1989)" passar as tardes admirando a obra de arte de "O Pintor - teatro (1989)" e contar a todos que toda essa maravilha da Lygia, essa mulher de verdade, é tudo "Feito à mão (1996)".
[...]. Enquanto escrevia meu relato na comunidade do extinto Orkut, fiz uma rápida visita ao site da autora e acabei descobrindo que minha lista de livros estava desatualizada.
Sim! Depois de pendurar em minhas paredes "Retratos de Carolina (2002), descobri que preciso continuar com a minha "Aula de Inglês (2006), e não esquecer de jeito nenhum que me sinto bem melhor caminhando com "Sapato de Salto (2006) – Que sem sombra de dúvidas, é um livro que me deixou sem fôlego! Não consigo esquecer a cara expressiva da Sabrina, o gingado da Tia Inês e a inocência da Vó Gracinha. Já viciei muita gente em Lygia com esse livro!
De todos os livros que tiver em casa, se for vinte, "Dos vinte 1 (2007)" tem que ser da Lygia, pensando bem, é melhor ter todos os livros dessa mente brilhante, porque pra mim, a obra da Lygia já se tornou mais que "Querida (2009).
Lygia, acho você a maior! Não precisamos ter inveja de outros países, temos uma escritora fantástica!
Pra ela tiro meu chapéu. Descobri a Lygia em 2009 e desde então, não me separei mais de seus livros.
Paixão às primeiras palavras.
[...]
Depois que escrevi esse relato, resolvi enviá-lo à Lygia, que pra minha grande surpresa, ME RESPONDEU! Na época eu pulei muito de emoção, até hoje, mesmo já tendo lido todos os seus livros e aguardar desesperadamente por outro lançamento, me emociono com essa lembrança. Não consigo falar de leitura, de livros, sem citar a Lygia, seus livros e seu estilo, é mais forte que eu!
Minha estante de livros tem uma prateleira só pra Lygia, porque ela é a melhor! Sou uma Lyginática!
➡Resposta da Lygia ao meu relato:
"De: Casa Lygia Bojunga Data: 10 de fevereiro de 2010 07:44 Assunto: Fw: Como conheci a Lygia Para: jaqueflowers@gmail.com Olá! Sabia que teu "encontro comigo" foi muito gostoso de ler? Imaginar você entrando em sala de aula e contando minhas histórias pros teus alunos, chorando no cabelereiro por causa dos meus personagens, povoando as paredes de tua morada com os retratos da Carolina (pra imaginar só um pouco), me deixou - pra dizer o mínimo - pensativa. Mas, me diz: como não ficar pensativa ao "me ver", de repente, invadindo desse jeito a vida de uma pessoa que eu nunca vi? Não é à toa que eu sempre achei tão mágica a relação leitor/a-escritor/a. Obrigada por me contar de maneira tão bonita este teu encontro comigo. Espero que, havendo outros encontros, eu não te decepcione. Com um abraço amigo e meus melhores votos de uma vida plena, Lygia Bojunga."
Sábado passado, 26 de agosto de 2016, Lygia completou 84 anos.
Esse ano nos presenteou com seu vigésimo terceiro livro: Intramuros. Estou lendo e amando. Logo volto pra contar como foi mais esse encontro!
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