A partir de hoje coloco no meu cotidiano um novo desafio. Esse é o meu quarto ano como professora de Língua Portuguesa. Desde 2008 sempre tive quintas-séries. Gosto da energia deles, dos olhos cheios de sede, da vontade e curiosidade de aprender a rotina do Ciclo II. Gosto de despertar neles o gosto pela leitura, escrita e principalmente o interesse pelos estudos. Tento criar uma atmosfera de troca e aprendizado constante. Principalmente a pesquisa e descoberta pelo prazer literário.
Não consigo entender como funciona o Ciclo II (1ª à 4ª série), sei que o desempenho de cada aluno é único, que cada um tem o seu tempo para ser alfabetizado. Nem todas as crianças começam a ler na 1ª série, para essa é necessário um trabalho muito mais intenso. O fato é que chegam muitas crianças na quinta série ainda não alfabetizadas, algumas no nível silábico e outras no nível alfabético.
É um desafio muito além do meu alcance. Não sou alfabetizadora, sou professora de Língua Portuguesa, no curso de Letras não me ensinaram a alfabetizar, o que tento é pelo meu esforço e amor ao que faço. Mesmo assim não consigo fazer milagres, pois são apenas cinco aulas semanais com mais de 30 alunos por sala, cada um com seu estágio de aprendizagem. Há os que dominam muito bem a leitura e escrita dentro dos padrões exigidos para a série, mas há aqueles que fazem apenas garatujas, as quais me deixam em desespero, sem saber por onde começar.
Sinto que há aí uma lacuna muito grande. O discurso político que ouvimos por aí "Crianças alfabetizadas na primeira série" e a realidade que enfrentamos diariamente nas salas de aula. Falta capacitação dos profissionais para lidar com essas situações, não apenas lidar, mas encontrar uma solução plausível. Como fazer? Como ensinar essa criança que passou quatro anos dentro de uma sala de aula e não aprendeu a ler? Não adianta tentar encontrar o culpado, resta ir em busca da solução. Ano passado tive oito alunos não alfabetizados em uma classe de trinta. Sei que não pude fazer muito por eles, mas me esforcei e os encaminhei para os especialistas da alfabetização disponíveis na escola.Não é muito, mas já foi um bom começo.
Esse ano tenho cinco alunos em uma sala de trinta e dois que não foram alfabetizados ainda. Será um desafio e tanto, já coloquei na minha lista de metas que até o término do ano letivo, dois deles, no mínimo, precisam estar lendo e escrevendo. Quero ver uma evolução no aprendizado dessas crianças. Não sou santa para fazer milagres, mas espero contar com o apoio das pessoas envolvidas (família, escola, especialistas e professores de outras áreas) para vencer esse desafio.
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Mais sobre níveis de desenvolvimento da escrita em:
Ferreiro, Emília e Teberosky, Ana: Psicogênese da língua Escrita. Ed. Artes Médicas. Porto Alegre, 1999.
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