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09 fevereiro, 2011

Novo desafio

A partir de hoje coloco no meu cotidiano um novo desafio. Esse é o meu quarto ano como professora de Língua Portuguesa. Desde 2008 sempre tive quintas-séries. Gosto da energia deles, dos olhos cheios de sede, da vontade e curiosidade de aprender a rotina do Ciclo II. Gosto de despertar neles o gosto pela leitura, escrita e principalmente o interesse pelos estudos. Tento criar uma atmosfera de troca e aprendizado constante. Principalmente a pesquisa e descoberta pelo prazer literário.

Não consigo entender como funciona o Ciclo II (1ª à 4ª série), sei que o desempenho de cada aluno é único, que cada um tem o seu tempo para ser alfabetizado. Nem todas as crianças começam a ler na 1ª série, para essa é necessário um trabalho muito mais intenso. O fato é que chegam muitas crianças na quinta série ainda não alfabetizadas, algumas no nível silábico e outras no nível alfabético.

É um desafio muito além do meu alcance. Não sou alfabetizadora, sou professora de Língua Portuguesa, no curso de Letras não me ensinaram a alfabetizar, o que tento é pelo meu esforço e amor ao que faço. Mesmo assim não consigo fazer milagres, pois são apenas cinco aulas semanais com mais de 30 alunos por sala, cada um com seu estágio de aprendizagem. Há os que dominam muito bem a leitura e escrita dentro dos padrões exigidos para a série, mas há aqueles que fazem apenas garatujas, as quais me deixam em desespero, sem saber por onde começar.

Sinto que há aí uma lacuna muito grande. O discurso político que ouvimos por aí "Crianças alfabetizadas na primeira série" e a realidade que enfrentamos diariamente nas salas de aula. Falta capacitação dos profissionais para lidar com essas situações, não apenas lidar, mas encontrar uma solução plausível. Como fazer? Como ensinar essa criança que passou quatro anos dentro de uma sala de aula e não aprendeu a ler? Não adianta tentar encontrar o culpado, resta ir em busca da solução. Ano passado tive oito alunos não alfabetizados em uma classe de trinta. Sei que não pude fazer muito por eles, mas me esforcei e os encaminhei para os especialistas da alfabetização disponíveis na escola.Não é muito, mas já foi um bom começo.
Esse ano tenho cinco alunos em uma sala de trinta e dois que não foram alfabetizados ainda. Será um desafio e tanto, já coloquei na minha lista de metas que até o término do ano letivo, dois deles, no mínimo, precisam estar lendo e escrevendo. Quero ver uma evolução no aprendizado dessas crianças. Não sou santa para fazer milagres, mas espero contar com o apoio das pessoas envolvidas (família, escola, especialistas e professores de outras áreas) para vencer esse desafio.


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Mais sobre níveis de desenvolvimento da escrita em:
Ferreiro, Emília e Teberosky, Ana: Psicogênese da língua Escrita. Ed. Artes Médicas. Porto Alegre, 1999.

03 fevereiro, 2011

Thanks

Foi dada a largada para a minha maratona de 2011.
E eu simplesmente não consigo escrever.
Então uso o espaço para agradecer
Por tudo o que vivo agora
Incomparável e Inexplicável.
Estou acordada
Mas sinto como se sonhasse.

Obrigada, Pai.

^^

26 janeiro, 2011

Vovô Firmino,

Ontem quando deitei para dormir, fiquei pensando no senhor. Lembrando sua alegria e forma de comunicação. Um homem astuto que lidava muito bem com as palavras. Palavras que me faziam sorrir, gargalhar, pelo simples fato de não conhecê-las. Eu o julgava ignorante, por pensar que as suas palavras eram erradas ou até mesmo inventadas. Mesmo assim, prestava muito atenção ao que dizia, só pra depois sair repetindo e zombando do seu modo firminês de falar.

Ainda lembro quando eu acordava pela manhã, pedia-lhe benção, ao que o senhor respondia: "Deus te abençoe minha fia". Lembro como o senhor acordava cedinho, mesmo aposentado, lá pelas 6h00 já estava de pé, coando o seu barulhento café.

Eu ouvia cada detalhe, e lembro como se fosse hoje. Primeiro o senhor levantava, lavava o rosto, ia ao quartinho, fazia suas necessidades e higiene matinais. Depois colocava o bule com água para esquentar no fogo. Ouvia atentamente as batidas da colher, colocando açúcar e adoçando a água, e o barulho do sopro esfriando a colherada de café sendo experimentada. Depois aquele cheirinho de café incendiava a casa.

O senhor ia para a calçada e dava "Bom Dia" a todos os compadres e comadres que passavam pela rua. Era nesse momento que eu ouvia o "passou..." bem baixinho. Cheguei a pensar durante toda a minha infância que o senhor estava contando cada um que passava, e na medida em que iam passando o senhor resmungava que aquele compadre já havia passado, numa espécie de conferência. Só pouco tempo atrás que me dei conta de que aquele passou podia representar uma pergunta: “Como passou?”.
Tinha dia que eu me demorava a levantar da cama só pra ouvir o senhor gritar lá do quintal: “Jaquélinooo, levanta!!! Vem passar manteiga no bico das galinha”. Gostava daquilo, mas nunca soube o significado. Também gostava de ouvir as histórias que contava sobre Romãozinho, um menino negrinho malcriado, que muito lembra o saci. O senhor dizia que quando trabalhava “lá fora” topava muito com ele pelas estradas. Apesar de ter medo do Romãozinho, gostava de ouvir as histórias, prometia sempre a mim, que jamais seria malcriada com minha mãe como o Romãozinho fora com a dele. E quando eu pensava em fazer qualquer má criação, o senhor me chamava pra ver a menina que tinha feito má criação com a mãe e me mostrava o espelho.
Quando o senhor ficava bravo, eu ficava só de longe espiando, com medo de sobrar pra mim. Não gostava de ficar “atiquizando” seu juízo. Era assim mesmo que o senhor falava: “Tu vai, me atiquizando, vai me atiquizando, quando eu estourar o juízo, tu vai ver só...”.
As poucas vezes que o vi sério, eram quando alguém o atiquizava, teimando, insistindo em alguma coisa, ou quando o senhor deixava o “texto” cair da panela, o senhor gritava “Pirla” bem alto. Desse xingamento eu ria mais ainda, mas só descobri o significado essa semana. O senhor xingava em italiano. Descobri essa semana que “pirla” quer dizer idiota, estúpido. Dependendo do contexto pode até fazer referência ao órgão sexual masculino.
Devo confessar que o senhor era mesmo hábil com as palavras. Pena que eu não tinha maturidade para aprender mais com o senhor. O que era estranho para mim, era uma verdadeira variação linguística. Se fosse fazer um levantamento do seu vocabulário hoje, daria para fazer um dicionário firminês.
O senhor calçava as “precatas”, ia no “Vadim” fazer a feira e voltava contente com sacolas e o jogo do bicho feito.
O que mais ficou em minha memória, das tantas lembranças, foi o dia em que eu, sentada na calçada de casa, estava estudando sobre a cultura dos povos Incas, Astecas e Maias. O senhor que não sabia ler, aproximou-se e começou a ver as imagens. Eu li todo o texto didático enquanto o senhor ficou de pé, com uma mão no queixo, dizendo: “Hum, Hum, tô cumpriendeno”. No outro dia, o senhor discursou orgulhoso na calçada para alguns compadres: “Jaquéliiino, já tá no terceiro grau. Essa menina pega uns livros do colégio e dá definição em tudo, tudo, tudo...”.
Fico pensando, sabe Vovô, naquela época eu tinha 11 anos e estava na sexta série. Hoje, aos 23, sou uma professora buscando realizar meus sonhos de menina. Lembro com tanto carinho e alegria do senhor, que sinto que não partiste. Que ainda está lá em Montanha, contando seus causos na calçada. Fico imaginando o que diria de mim...
Lembro do meu vovô com muito carinho, e agradeço a Deus pelo tempo que passamos juntos. Tenho memórias que nenhum dinheiro paga. Meu avô era um sábio com as palavras e com as histórias. Uma fonte inesgotável de cultura popular. Difícil aprender o que aprendi com ele nos livros já publicados.

Vovô Firmino, as rodas de conversa devem ter ficado mais animadas onde ele está agora

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Vocabulário Firminês:

Lá fora: roças, fazendas, outros Estados onde viveu.
Atiquizar: Instigar, incitar, aborrecer.
Texto: tampa da panela
Pirla: idiota, estúpido
Precata: Alpercata – calçado de couro, chinelo, mais conhecida como papete.



Outra postagem com Vovô Firmino

12 janeiro, 2011

Manoel de Barros em Animação

Em 2009 tive uma grande descoberta literária. Encontrei as palavras do poeta Manoel de Barros. Suas memórias inventadas me encantaram, e logo percebi o quanto a gente vive desprezando as coisas simples da vida, principalmente os fatos da infância.
Desse encontro literário nasceu um trabalho¹ que desenvolvi com duas turmas de 6ª série/7º ano. Depois de terem lido as Memórias Inventadas de Manoel de Barros, os alunos escreveram suas memórias, umas inventadas e outras vividas, por eles e por seus pais. Além de publicadas no livro da turma, as memórias também foram publicadas em um blog de cada sala.
BARROS, Manoel de. Memórias Inventadas: as infâncias de Manoel de Barros / iluminuras de Martha Barros. – São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2008.

Fiquei muito feliz quando terminamos esse trabalho e cada turma lançou a sua coletânea de memórias. 
A partir daí, Manoel de Barros passou a ter um novo sentido para mim.
A palavra sempre me encanta, e quem sabe usar as palavras de forma simples, mas encantadora, acaba me fazendo apaixonar. Quanto mais simples, mais fácil para eu me tornar fã.
Passei a seguir o twitter que homenageia o poeta com suas frases diárias. Assim, tenho a minha dose diária da simplicidade nas palavras do Manoel. E foi seguindo esse perfil que outro dia meus olhos e ouvidos tiveram o prazer de saborear uma obra de arte, um vídeo com poemas do Manoel, animação e narração de pessoas pra lá de talentosas. Vale a pena conferir.





"Dentre as coisas mais simples que já conheci, Manoel de Barros está no meio. Ele usa as palavras para falar de coisas tão simples e acaba transformando essa simplicidade da vida em poesia. 
Manoel de Barros é para os sensíveis. Se você não for um sensível, depois de ler Manoel de Barros, acaba descobrindo esse seu lado poético, tens logo um encontro com teu eu-lírico."

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Referências para entender a postagem:
Twitter em homenagem ao Poeta: @Poeta_ManoeldB

03 janeiro, 2011

Esperança. Como anda a tua?

Esse poema do Drummond é genial. Descreve bem essa esperança e "sentimento do novo" que toma conta das pessoas na passagem de um ano para o outro. Minha esperança não foi industrializada, ela existe de verdade e se renova a cada dia, não apenas na passagem de Dezembro para Janeiro. Minha esperança é casada com sonhos.
Como anda a tua?

"Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a
que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no
limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e
entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra
vez, com outro
número e outra vontade de acreditar que daqui pra
diante vai ser diferente"

(Carlos Drummond de Andrade)


Espero de coração que a sua esperança seja calcada em sonhos e nos planos do Pai em tua vida. Que você não viva em função do milagre anual, da esperança do abraço e presente natalinos. Que o seu ano não seja baseado em capitalismo barato pregado pela sociedade sem valores.
Que você consiga chegar no dezembro próximo sem entregar os pontos. E se tiver que entregar, que seja para pegar um ponto melhor. Que seja no tempo certo.
Que você não tenha vontade de mudar apenas nas datas terminais. Queira mudar sempre, se estiver incomodado, mesmo que hoje, o dia da tua mudança seja dia 03 de janeiro. Não espere chegar a próxima segunda-feira para iniciar a dieta ou procurar um emprego novo. Mude quando sentir vontade. Não porque a sociedade te mandou.
A renovação acontece dentro de você, não passe 2011 pensando o que deveria ter mudado em 2010. Não fique esperando o milagre. Seja.

Feliz 2011. Com esperança de dentro para fora. Sempre!
(Jaqueline Flores)
referente a: E.E. Deputado Gregório Bezerra (ver no Google Sidewiki)

28 dezembro, 2010

Hoje tenho obrigações antes de dormir

Hoje só durmo depois da minha prece. Só deito após admirar as estrelas e deixar que meus olhos se encantem pelo brilho da lua. Hoje só vou sonhar depois que a brisa da noite acariciar meus cabelos, depois que ouvir ao longe o último pássaro agasalhar-se em seu cantinho. 
Hoje só durmo depois de agradecer a Deus por aquela árvore ostentada ali de frente para meu portão. Só durmo depois de pedir ao Pai que não deixe os cupins a destruírem de uma vez só. Penso que ficarão sem casa. Só decidirei dormir depois que der uma última olhada naquele formigueiro construído dentro do jarrinho onde por 4 anos viveu um cacto, que por ironia do destino morreu afogado pela chuva. Logo os cactos, que nem precisam ser regados! Eu devia estar muito distraída para deixá-lo assim desprotegido do sol.
Hoje só durmo depois de pedir perdão, de dizer o que me aflige, de retirar a mágoa que formou-se em meu coração. 
Só durmo depois de ouvir minha música preferida, conversar com as pessoas que amo e certificar de que tudo está bem. Só durmo depois de agradecer a Deus por mais um ano que está chegando ao fim. E depois de tudo isso, quero ainda antes de dormir, pedir forças para continuar com o olhar sensível em 2011, continuar sonhando e agradecendo por tudo.